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A Surfar por Weligama


Chegamos à paragem de autocarro, assim que vemos o primeiro gritamos "Weligama? Weligama?".

O condutor faz o nod habitual com a cabeça e indica-nos para entrar. Não espera que ninguém se sente, nem chega bem a parar, é uma espécie de hop-on hop-off mas na velocidade máxima. O revisor pede-nos o dinheiro dos bilhetes, dizemos que só pagamos 1/3, geralmente é o valor que corresponde à verdade aqui.

Durante os cerca de 45 minutos de viagem até Weligama revi-me na Índia. Uma condução assustadora, em constante ultrapassagem em contra-mão, mas sempre a buzinar como manda a regra. Mochilas caíam para um lado e para o outro do autocarro, pessoas também por vezes. Lá chegamos inteiros ao destino.

Weligama é uma espécie de vila pescatória, já muito dedicada ao turismo, especialmente para iniciados no Surf. A praia está repleta de escolas que disponibilizam aulas e o equipamento para quem se queira iniciar. As ondas são constantes mas pouco agressivas, tornando-se perfeito para começar o desafio, mas pouco interessante para quem já tem alguma experiência.

O primeiro dia, como faço sempre que tenho tempo em algum destino, é para reconhecimento do terreno. Perceber como tudo funciona, os principais locais que vou precisar (a "Liquor store" é dos sítios que toda a gente sabe e que geralmente fica perto de tudo, é o único sítio onde se vende álcool), os preços habituais e os locais com melhor relação qualidade preço. Pois é.

Estando na "capital" da iniciação ao Surf não havia como não experimentar. O hostel Weligama, onde fiquei hospedada, tem um protocolo com uma das 30 escolas de surf existentes pela praia e foi na Lucky Surf School que me estreei. O instrutor, vamos-lhe chamar Djavani porque nunca consigo decorar correctamente os nomes daqui, explicou-me cada detalhe de como eu, o mar e a minha prancha nos íamos comportar dentro de água. Deu milhares de exemplos de como podia correr mal, para me mostrar o que não fazer, terminando sempre com um "It's very dangerous no?". Depois de descobrirmos qual a minha perna mais forte através da melhor técnica (eu relaxo e ele empurra-me, a perna de apoio é a mais forte) e das minhas figuras na praia em cima da prancha, lá arrancamos para dentro do mar.

O vento contra mim fez-me sentir de imediato o peso da prancha, e pensei "Ui, isto vai ser engraçado". Sempre achei que o difícil no Surf seria equilibrar-me na prancha, com a ondulação do mar seria fácil perder a estabilidade. Mas nisso acho que o jogo de ancas da Dança Oriental me deu uma ajudinha extra bem valiosa. Assim que ficava de pé na prancha, joelhos mais ou menos dobrados, lá fluía até ao final da onda, sem abusar demasiado porque há que sair antes de aterrar em plena areia.

O difícil na verdade foi fazer o movimento correto para me pôr de pé, fiz muita batota devo dizer. Ajuda com o joelho, com o pé, com a mão, tudo misturado. O instrutor ia empurrando a minha prancha e quando me dizia "Stand up!" lá tentava eu mais uma vez. E mais uma e mais uma e mais uma. Depois de cair felicitava-me com um thumbs up ou um thumbs down, conforme tivesse corrido bem ou mal. Durante aquela hora e meia de experiência percebi que voltar a trazer a prancha para o sitio certo custava tanto como apanhar a onda, por isso falhar era um grande desperdício. A aula correu sem problemas, estava um bocado desconfiada de passar tanto tempo no mar com um local daqui. Apesar de me ter equipado com fato de banho em vez de biquini, com certeza que ele teve uma vista previligiada do meu traseiro durante aquele tempo todo. Mas, tudo tranquilo e com o maio respeito. Fiquei contente e no final até tiramos uma fotografia para mais tarde recordar. Uma excelente experiência.

No segundo dia em Weligama já me sentia mais em casa. Já conhecia o staff todo do hostel, a maioria a fazerem voluntariado por aqui (e criaram em mim um pouco do bichinho de experimentar). O senhor do restaurante onde fui duas vezes já me dizia Bom Dia pela manhã. E quando chegava à praia já ouvia um "Oh Maria, how are you?", do Djavani.

Último dia. Acordo às 7h da manhã, sem despertador. Visto novamente o fato de banho, tomo o pequeno almoço no hostel e vou até à praia alugar uma prancha, desta vez para me aventurar sozinha. A dificuldade acresce claro está, mas a diversão é extrema e todos os que estão comigo dentro do mar partilham das rizadas uns dos outros. Ainda não consegui alcançar aquela sensação de liberdade de que falam ao surfar a onda. Para já a única sensação que tenho são as chapadas das ondas que tento apanhar. Mas, dizem-me que com o tempo e prática lá chegarei.


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