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1 Day in Negombo

São 7.30 da manhã. Estou a tomar o pequeno almoço no Hostel Colombo Jumbo, um dos melhores rankings aqui.

A senhora que trabalha noite e dia para organizar check ins e check outs e manter os quartos e casas de banho arrumadas fez-me esta delícia. Três fatias de pão de forma, duas com manteiga, uma com compota, um ovo cozido, uma banana e papaia já pronta. Acompanha, como manda a tradição, com chá. Perguntei pelo horário do comboio para negombo, 8.06.

Saí do Hostel, a cidade ainda esta calma.

Cheguei à estação e como já é costume por aqui, não havia comboio das 8.06, o próximo era às 9.40, o preço do bilhete 35 rupias (21 cêntimos). Sorte a minha que tinha trocado o meu último livro já completamente lido por outro que alguém deixou pelo Hostel. O “Awake Kraken” manteve-me ocupada durante o tempo de espera.

Uma senhora que esperava pelo comboio ensinou-me qual o site onde devo procurar. Uns segundos depois, foi quase atingida por cocó de corvo que pairava nas janelas da estação. Dizem que é sinal de sorte. O senhor a quem pedi confirmação de qual o comboio a apanhar acompanhou-me ao longo de toda a viagem, a esposa que estava com ele arranjou-me lugar para me sentar e disseram-me qual a estação onde deveria descer. Uma simpatia.

Durante o comboio reparei numa senhora, dos seus 65 anos, junto a um menino dos seus 12 diria. Fica para uma outra história mais à frente.

Negombo é uma cidade piscatória, muito famosa pelos seus mercados de peixe. Mas já lá vamos.

Saí da estação, Google maps no telemóvel e comecei a andar para a St. Marys Church. Uma igreja católica, bem no centro da cidade, com todos os catolicismos que possamos imaginar. Não gosto muito de falar de religião, há demasiadas coisas que me incomodam, e quanto mais culturas conheço mais podres encontro. Mas a verdade é que, aqui, neste país que me é estranho e na cidade onde estava por apenas um dia, ao entrar naquela igreja, senti-me em casa. Lembrei-me do Ten e da Sara, ambos do Egipto e das nossas conversas sobre como se sentiam bem a ouvir o Corão a ser recitado. Só me fez lembrar ditaduras passadas e lavagem cerebral, mas neste momento essa mesma crença “atacou-me” um bocadinho. Caminhei pelo lado esquerdo dos bancos onde havia 2 ou 3 pessoas sentadas. As paredes e estátuas retratavam a história da crucificação de Jesus, segui a história. No fim, sentei-me também. O bom de viajar sozinha é que a nossa mente fica livre de viajar por onde quiser, naquele momento, dentro daquele igreja, viajei por todos os batizados, casamentos e funerais que assisti na minha vida. Momentos fortes, uns por razões de felicidade, outros por razões de dor a que nenhum ser humano deveria ser submetido.

Sentada no banco, rezei. Não sei bem o porquê mas pedi que tudo corresse bem nesta minha viagem e que aqueles que esperam por mim sintam saudades suportáveis e que não se preocupem em demasia. Agradeci aos 11 anos que estudei no Colégio Dom Diogo de Sousa por ainda me lembrar do Pai Nosso completo.

A próxima paragem era um Fish Market. Pelo caminho senti-me orgulhosa com tantas placas profissionais com nomes de mulheres, sem dúvida que estou a tornar-me mais “feminista” à medida que descubro mais e mais distância entre géneros por estas bandas. Cheguei ao mercado perto do meio-dia. A partir do momento em que passamos a entrada do mercado é impossível não fazer uma careta com o cheiro insuportável a peixe aliado aos 32 graus que se fazem sentir. Uff!

Do maior ao mais pequenino, fresco ou seco, inteiro ou já em postas, encontramos por ali tudo o que precisamos para o almoço. Não há gelo, o peixe está simplesmente em cima de bancadas de madeira, ou no chão que vão limpando com água. Na praia, tapetes gigantes com carapaus pequeninos dão trabalho a imensos homens que os vão virando de 10 em 10 minutos para que sequem mas não fiquem colados uns aos outros.

Depois de deixar o mercado e conseguir respirar normalmente decidi ir pelo desconhecido, em direção ao mar. Andei, andei, andei… Passei pelos canais, pelos barcos que fazem a delicia dos turistas com uma volta pelo rio, inúmeros mercados, lojas, restaurantes típicos. Num dos mercados um senhor acompanhou-me durante uns 10 minutos até ter a certeza que eu gostava mais do Sri Lanka do que da Índia. Convidou-me para tomar um chá, mas já achei demais e segui o meu caminho. Saber dizer Sim ou Não quando se viaja, principalmente sozinha, é algo que demora tempo a aprender.

Almocei perto de uma estação de autocarros, uma espécie de cachorro e um doce que ainda não consigo descrever o sabor como sobremesa. No final, percebi que já estou agarrada aos hábitos da Índia. 32 graus lá fora e pedi um chá com leite quente no final do almoço. O que fazer?

Vi o próximo comboio no telemóvel, faltavam 55min. Despachei-me a verificar no Google Maps quanto tempo demoraria a caminhar até à estação pois já não tinha ideia onde estava e tive medo de não chegar a tempo. Surpresa das surpresas, a estação ficava a 270m. Ri-me de mim própria.

Na viagem de regresso fui presenteada com uma banda a tocar no comboio música do Sri Lanka. Dei-lhes algumas moedas, adoro artistas de rua. Uma parte de mim queria levantar-se e dançar com eles.

Com a minha aliança no dedo, menti mais uma vez à pergunta “Husband?”, que surgiu de um rapaz até bem parecido ao fim de 20 segundos de conversa que começaram comigo a perguntar-lhe a que horas chegava o comboio à estação final. Um sim a esta perguntava faz realmente milagres.


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