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35h Train | Mumbai - Amritsar

Deitei-me no chão em cima de toda a nossa bagagem para me sentir indiana.

Muitas das pessoas simplesmente colocam o casaco debaixo da cabeça e dormem ali, no meio do chão da estação de comboios, rodeados de quem quer que por ali passe, seja a que hora for. A estação tem um cheiro pesado, as pessoas têm um ar pesado. Não só da sujidade claramente visível e que começa a tornar-se natural para mim, mas parecem pesadas por tudo aquilo que carregam nelas e pelo olhar que nos lançam por sermos “diferentes”.

A Índia tem muitos olhares.

Os inocentes, as crianças, com uma curiosidade insaciável passam por nós e dizem “Hello” a sorrir, outras vezes esperam que estejamos distraídos e muito rapidamente vêm tocar-nos no cabelo e fogem. Estes são sem dúvida os melhores olhares.

Temos os adultos curiosos também, que fazem muitas perguntas quando conseguem expressar algumas palavras de inglês. Se souberem realmente falar inglês, podemos contar com umas 3 horas de conversa sem parar, têm sempre algo mais a perguntar sobre nós, o nosso país, a nossa língua, de onde viemos e para onde vamos. E o mais incrível é que se dispõem a ajudar como nunca vi. Toda a gente tem um conhecido de um primo que é irmão de um amigo que tem conhece alguém que tem uma carrinha que nos pode levar no ponto A ao ponto B. E assim se faz negócio na índia.

Durante este comboio onde estou agora, de 35h, Mumbai para Amritsar, começamos de forma tímida a ocupar as nossas 7 camas espalhadas pela carruagem B2. Todos os locais já sabem como se organizar, mas para nós parece o primeiro dia de escola. De noite abrem-se as camas e é para dormir. De dia, recolhem-se camas, lençóis, almofadas e cobertores e todos se sentam uns com os outros, como se fossem amigos desde sempre. Partilham conversas, conhecimentos e até comida. Sim, já comi algumas coisas estranhas que os locais ao longo do comboio nos foram oferecendo. Tudo muito saboroso e bem preparado. Sim, porque elestrazem tudo atrás, panelas e pratos incluídos! Tudo menos talheres, aqui come-se com as mãos!

Nas cerca de 18 horas que já passaram em viagem já conhecemos um casal que nos ajudou a organizar as camas, um senhor que adora os nossos Ladoos, um rapaz que nos vai ajudar com a carrinha para o próximo destino, um senhor que nos está a arranjar um dos bilhetes de autocarro que ainda precisamos de comprar e um outro rapaz que nos está a ajudar a contactar números indianos para agendar uma outra viagem. Sinto que juntamos a família toda. É bom.

As crianças no comboio, há imensas, têm passado o tempo a jogar às escondidas, entre dormir e comer. Sempre descalças, apesar de aqui o chão ser o caixote do lixo de todos.

O ar da ventoinha por vezes torna-se frio demais cá dentro, mas olhando pela janela e vendo as vacas na linha de comboio lá fora dá para perceber que a temperatura continua a rondar os 35º habituais.

Vamos jantar daqui a pouco, a nossa especialidade no comboio, pão com atum e tomate, um sumo de manga e uma espécie de batatas fritas Masala, bem spicy como manda a cultura indiana. Depois vou descer a minha cama, número 29, no meio do número 28 e 30 literalmente e prender com uma espécie de suspensórios que encaixam para que não caia durante a noite. O casal que “dorme connosco” está a fazer uma videochamada ao meu lado, acho que me estão a mostrar à família, afinal, somos estrangeiros, somos como uma atração turística por aqui.

Deixo-vos com o Vídeo desta viagem.


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